Reportagem Especial

Reportagem Especial

Realizada por estudantes de Jornalismo da Faculdade Maurício de Nassau:


Breno Peres, Carlos Eduardo Mélo, Edwillames Santos, Rodrigo Passos e Wellington Silva

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Do sonho à realidade


Fernando é um dos pacientes que, desde quando foi internado, não teve vida fora do Hospital da Mirueira. Chegou lá por volta dos 13 ou 14 anos e, além das feridas emocionais, carregava consigo marcas visíveis em seu corpo. Dedos atrofiados, ferimentos na perna e perda de parte da cartilagem do nariz, eram os sintomas da hanseníase que ele já conhecia.
Levado ao hospital por uma vizinha, que se propusera a buscar auxílio médico, ele foi enviado diretamente para um pavilhão, onde ficou isolado, pois a doença já estava em estágio avançado. Durante o tratamento, foi transferido para a enfermaria. Lá, pôde ter mais contato com outras pessoas. Durante os primeiros cinco anos de internamento, não teve nenhum contato com a sua família. Além de alguns não quererem vê-lo, o próprio hospital não permitia a aproximação, para evitar que a doença fosse transmitida. Depois desse tempo, um de seus irmãos foi em busca de notícias dele e, sabendo da melhora do interno, veio, em seguida, seu irmão caçula. Por fim, Fernando recebeu a visita do seu pai. “Quando todos viram que eu estava bem e não corriam risco de se contagiar, eles passaram a me visitar mais vezes. O tempo que passei longe da minha família foi muito difícil. Fiquei bastante feliz quando a gente voltou a se ver”, confessa, emocionado.
Após entrar no Hospital da Mirueira, Fernando não teve mais acesso ao mundo exterior. Todos os seus documentos foram tirados lá mesmo, e o pouco que sabe ler, também aprendeu na Mirueira. Depois de alguns anos, começou a trabalhar e conheceu a sua mulher, com quem construiu uma família e teve três filhos. Além deles, fazem parte do seu núcleo familiar todos aqueles que moram, moravam ou simplesmente passaram uma temporada no hospital. “Antigamente, mesmo o preconceito sendo maior, a alegria imperava aqui dentro. Esse hospital era uma cidade. Agora só restam os moradores mais idosos, que já estão acamados” afirma o ex-portador de hanseníase, acrescentando que o número de internos era tão grande que havia pessoas suficientes para montar duas escolas de samba e três times de futebol. Os cidadãos da Mirueira tinham tudo o que precisavam: festas, rádio, igrejas, até uma delegacia existia no local.
Hoje, com a diminuição do preconceito e curado, Fernando continua prestando serviços no hospital, onde viveu a maior parte de sua vida, e recebe um salário por isso. Quando necessário, cruza as barreiras do hospital, com o seu carro, e vai até as ruas para fazer compras ou, simplesmente, passear. Mas, ainda assim, o amor de sua tia, por quem foi criado, ele nunca recuperou. “Eu peço a Deus, todos os dias, que ela me perdoe se eu fiz alguma coisa de errado”, desabafa.


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